Capoeira
Ao se pensar em outra prática corporal genuinamente brasileira, a capoeira foi criada pelos escravos como forma de luta para se conquistar a liberdade. Não obstante, hoje ela é considerada um misto de dança, jogo, luta, arte e folclore (FALCÃO, 2003). |
RUGENDAS, Johann Moritz. Jogar Capoeira (Domínio Público). Litografia, 1835. |
Origem da Capoeira Capoeira é uma arte marcial com quase 5 séculos, desenvolvida no Brasil, por escravos oriundos de África, inicialmente como técnica de defesa. Baseada em tradicionais danças e rituais africanos, estes escravos praticavam Capoeira nos intervalos do trabalho, treinando quer o corpo quer a mente para situações de combate. Devido à proibição de qualquer tipo de arte marcial pelos seus donos, a capoeira continuou, mas encoberta como uma "inocente" dança recreativa. Mais tarde, no século 17, alguns escravos fugitivos formaram "quilombos" (territórios escondidos e governados por escravos), na qual a arte capoeirista foi aperfeiçoada. Mas a Capoeira permanecia proibida, mesmo após a abolição da escravatura em 1888. Contudo, continuava a ser praticada pela população mais pobre, dando origem a perseguições e condenações, numa tentativa, quase bem sucedida, de erradicar a Capoeira das ruas brasileiras nos anos 20. Apesar da proibição, Mestre Bimba e Mestre Pastinha fundaram a primeira escola de Capoeira, em Salvador, Bahia. Mestre Bimba criou um novo estilo, a "Capoeira Regional", afastando-se da tradicional "Capoeira Angola", introduzindo novos movimentos e técnicas. Foi com a nova "Capoeira Regional" que o Mestre Bimba conseguiu finalmente convencer as autoridades do enorme valor cultural da Capoeira, terminando assim a proibição na década de 30. A Capoeira é caracterizada por uma roda, formada por praticantes da arte capoeirista. Na roda um Mestre encarrega-se de tocar o berimbau, acompanhado por outros capoeiristas com instrumentos específicos da Capoeira, como o pandeiro ou o atabaque. Os restantes membros que irão praticar o seu "jogo" de Capoeira, alternadamente, e dois a dois, num misto de dança, pontapés, saltos, etc. Fonte: arodacapoeira.no.sapo.pt Citação: FALCÃO, José Luiz C. Capoeira. In: KUNZ, Elenor. Didática da Educação Física 1. 3. ed. Ijuí: Unijuí, 2003, p. 55-94. |
Mestre Bimba |
Aos 23 de Novembro de 1899, início de um novo século, no bairro de Engenho Velho, freguesia de Brotas, em Salvador, Bahia, nascia Manoel dos Reis Machado, o MESTRE BIMBA. Seu apelido BIMBA, ele ganhou logo que nasceu, em virtude de uma aposta feita entre sua mãe e a parteira que o “aparou”. Sua mãe, dona Maria Martinha do Bonfim dizia que daria luz a uma menina. A parteira afirmava que seria homem. Apostaram. Perdeu Dona Maria Martinha e o Manoel, recém nascido, ganhou o apelido que o acompanharia para o resto de sua vida. BIMBA é, na Bahia, um nome popular do órgão sexual masculino em crianças. Seu pai, o velho Luiz Cândido Machado, já era citado nas festas de largo como grande “batuqueiro”, como campeão de “batuque”, “a luta braba, com quedas, com a qual o sujeito jogava o outro no chão”. Aos 12 anos de idade, BIMBA, o caçula de dona Martinha, iniciou-se na capoeira, na estrada das boiadas, hoje bairro da Liberdade, em Salvador. Seu Mestre foi o africano Bentinho, capitão da cia. De navegação baiana. Naquele tempo a capoeira era ainda bastante perseguida e BIMBA cantava: “naquele tempo capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro, estivador e malandros; eu era estivador, mas fui um pouco de tudo”. A polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado. Imagine só que um dos castigos que davam aos capoeiristas que fossem preso brigando, era amarrar um dos punhos no rabo do cavalo e outro em um cavalo paralelo. Os dois cavalos eram soltos e postos a correr até o quartel. Comentavam até por brincadeira, que era melhor brigar perto do quartel, pois ouve muitos casos de morte. O indivíduo não aguentava ser arrastado em velocidade pelo chão e morria antes de chegar ao seu destino: o quartel de polícia. MESTRE BIMBA praticava e ensinava a capoeira tradicional, mas ele sentia que ela havia perdido eficiência como luta, pois os mestres que a mantinham, se preocupavam muito com a manutenção de novos rituais e tradições e esqueciam a sua essência como luta. Mestre Bimba vinha realizando estudos com seus alunos, para a criação do que ele chamaria de “Luta Regional Baiana”, quando chamou os mestres da época para uma reunião, todos recusaram sua proposta, pois achavam que ele estava acabando com a tradição do que mais tarde seria chamado de Capoeira Angola. Aproveitando-se do “batuque”, da “angola” e da sua experiência e habilidade como exímio lutador, criou o que chamou de “capoeira regional”, ou “Luta Regional Baiana” assim chamada para fugir da perseguição policial que existia sobre a Capoeira. |
Mestre Pastinha |
Foi defensor da Capoeira de Angola. Foi uma das grandes celebridades da vida popular na Bahia. Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 5 de abril de 1889 em Salvador-Bahia. Mulato claro de estatura mediana, magro, de temperamento gentil e acolhedor, bem-humorado, reuniu ao seu redor um grande número de excelentes capoeiristas, nem tanto por ser jogador excepcional, mas pela força de sua personalidade, seus dotes de filosofo e poeta, seu amor e conhecimento dos fundamentos da capoeira angola. Filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe, com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana. Diz-se que Pastinha aprendeu capoeira ainda menino com um negro de Angola chamado Benedito, que presenciou as surras que constantemente tomava de um menino mais velho. Mestre Benedito o chamou e disse: "O tempo que você perde empinando raia, vem aqui no meu cazua que vou lhe ensinar coisa de muito valia". Existem outras versões que dizem que Pastinha aprendeu capoeira bem tarde, já homem maduro. A princípio mestre Pastinha ensinava capoeira para os colegas da Marinha, onde ingressou aos 12 anos. Depois que saiu, aos 20 anos, abriu sua primeira escola de capoeira na sede de uma oficina de ciclistas. Além de capoeirista, mestre Pastinha, era pintor; chegando a dar aula de pintura de quadros a óleo. Em 1941 fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola no casarão número 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira academia-escola de capoeira. Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Pastinha e seus alunos sempre usavam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de Pastinha. Para Pastinha, a capoeira "de Angola se diferencia da Capoeira Regional por "não ter método", ser "sagrada" e "maliciosa". Pastinha não aceitava a "mistura" feita por mestre Bimba, que incorporou a capoeira movimentos de outras lutas. Pastinha dedicou sua vida a capoeira angola, tornando-se um dos estandartes da cultura afro-brasileira. Faleceu em 14 de novembro de 1981, aos 92 anos de idade, cego havia 18, abandonado pelos órgãos públicos e pela maioria de seus antigos alunos. "Angola, Capoeira Mãe! É mandinga de escravo em ânsia de liberdade. Seu princípio não tem método, Seu fim é inconcebível ao mais sábio dos mestres." Este conteúdo foi acessado em 15/01/2010 do sítio: Associação Arte Regional de Capoeira - DF Besouro
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