Disciplina - Educação Física

Os Estádios e os Gastos

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Eventos esportivos como a copa do mundo sempre deixam os países sedes com uma grande visibilidade internacional. Mas a capacidade de acumularem gastos e de produzirem benefícios permanentes para as economias locais é sempre questionada.

No caso da África do Sul, os gastos para a construção dos estádios que sediarão o mundial superaram as estimativas iniciais em R$ 2 bilhões.

Para efeito de comparação, na Alemanha, a proposta do Mundial de 2006 previa gastos de R$ 2,215 bilhões para construção e reforma dos 12 estádios. Mas, ao final das obras, as despesas totalizaram R$ 3,32 bilhões. Para 2014, o governo brasileiro formalizou o orçamento dos 12 estádios que sediarão o mundial: a conta começa em R$ 5,342 bilhões, e é difícil precisar o valor final.

A suntuosidade das instalações preparadas pela África do Sul para a Copa de 2010 pode mudar para sempre a imagem do continente, ou confirmar a escolha equivocada da sede se tornando obras faraônicas destinadas a excentricidade, num país que ainda luta para efetivar os benefícios do regime democrático, além de uma constante batalha contra miséria e a Aids.

- Quando se constroem enormes estádios, você está tirando dinheiro para construir escolas e hospitais. Depois, você fica com enormes elefantes brancos, enormes estruturas que não têm mais utilidade - disse o ativista antiapartheid Dennis Brutus no documentário "Fahrenheit 2010".

Frans Cronje, diretor do Instituto Sul-Africano de Relações Racias, é irônico com os políticos de seu país:
- Será que algum dia um político do CNA (partido do governo), que afirma ter o mandato dos negros pobres do país, vai até uma área pobre para explicar porque o governo achou adequado gastar 1 bilhão de dólares em estádios? Não. É claro que não.

Acompanhe as maiores variações de custos:


Green Point
Orçamento inicial - R$ 307 milhões
Valor final - R$ 1,15 bilhão
Substituindo o antigo Green Point o African Renaissance, da Cidade do Cabo, é o líder de custo com o orçamento quase quatro vezes mais caro que o previsto. A população da África do Sul teme que ele não tenha utilidade depois do mundial, além da acusação de que ele só tenha sido construído porque a Federação Internacional de Futebol (Fifa) teria “forçado a barra”.

Nelson Mandela Bay,
Orçamento inicial - R$ 228 milhões,
Valor final - R$ 538 milhões
Em Porto Elizabeth, o estádio Nelson Mandela Bay, com capacidade para 46.082 torcedores, sofreu, principalmente, com a desvalorização da moeda local (Rand) durante a crise financeira global, o que aumentou o preço da importação de materiais, como as 36 vigas de sustentação produzidas no Kuwait e a membrana do telhado feita no Japão.

Moses Mabhida,
Orçamento inicial - R$ 487 milhões
Valor final - R$ 795 milhões
O grandioso Moses Mabhida, em Durban, foi construído com quase 65% a mais que o previsto. A construção, que abrigará 69.957 espectadores, teve problemas principalmente com a alta do preço do aço, uma vez que foram utilizadas 10 mil toneladas desse material.

Os outros dois estádios construídos especialmente para a Copa do Mundo não apresentaram variação de custo tão alta. O Peter Mokaba, em Polokwane, foi finalizado com R$ 385 milhões. O Mbombela, em Nelspruit, alcançou R$ 269 milhões, após orçamento inicial de R$ 223 milhões.

Entre os palcos do Mundial que passaram por reformas, poucas alterações nos valores aconteceram. Exceção ao Soccer City, em Johanesburg, que apresentou a maior variação de custos. Local da partida de abertura e da final do torneio, com capacidade para 88.460 torcedores, o principal estádio da África do Sul começou com um orçamento de R$ 487 milhões e terminou com R$ 846 milhões. Erguido em 1987 próximo ao bairro Soweto, o antigo estádio com capacidade de 80 mil torcedores foi praticamente reconstruído.


Algumas ponderações

Cultura local

Constantemente ouvimos os meios de comunicação alardeando que a copa levará ao conhecimento mundial, entre outras coisas, a cultura africana. No entanto, uma grande oportunidade de mostrar a cultura africana através dos palcos da copa, já foi perdida. Depois de 80 mil m3 de concreto e 11 milhões de tijolos, apenas o Soccer City guarda alguma relação aparente - e intencional - com a cultura africana em sua concepção.

A obra apresenta uma releitura do artesanato local e dos artefatos de barro espelhados em sua geometria externa, e nas cores adotadas. Ganhou um design inspirado no vaso de cabaça, um dos símbolos da cultura do continente africano.

Os outros estádios são os típicos e aclamados estádios modernos. Mesclam características industriais (infraestrutura, robustez, porte, acabamentos) e hotelaria/convenções (equipamentos, sonorização, segurança, amenidades, automação).


Depois da copa

A grande lição que nós brasileiros podemos reter dessa copa, é que ela é um evento que pode prover entre outros, dois grandes benefícios: a superexposição do país e a melhoria infraestrutural.

É, neste contexto, que os países sede de grandes eventos esportivos têm que decidir o futuro que desejam após o evento: se apenas uma grande festa, ou um país com mais infraestrutura, mais oportunidades e menos desigualdade social. O que está em jogo é a capacidade de projetar e superar desafios sociais, técnicos e de logística.

Os sul africanos, provavelmente, levarão da Copa 2010 pouco mais que a superexposição do país e um eventual incremento do turismo e negócios associados, sem quaisquer melhorias profundas quanto aos problemas que assolam o país.

Esperamos que o Brasil aprenda com a copa 2010, e que disponha de qualidade no planejamento, no engajamento da sociedade/população e nos governos, para que os benefícios superem o imediatismo e se concretizem enquanto melhorias sociais permanentes.

Mais informações sobre o estádios em "Estádios - África do Sul"
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