Disciplina - Educação Física

Educação Física

07/11/2008

Pátio escolar é o desenvolvimento infantil

Estudo sobre o pátio escolar é o desenvolvimento infantil     
O pátio escolar, espaço essencial para o desenvolvimento infantil, freqüentemente corresponde às áreas subutilizadas dos terrenos das escolas, em vez de se caracterizar como um local organizado para a interação entre as crianças. É o que conclui um estudo realizado em Natal (RN) com o objetivo de compreender os diferentes tipos de relações infantis estabelecidas com o ambiente escolar.
Partindo de um universo de 200 crianças de 3 a 7 anos, o estudo fez uma análise minuciosa da interação entre elas durante o recreio e da utilização de várias áreas de um pátio escolar da cidade. Os resultados foram publicados na revista Paideia, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa, que correspondeu ao mestrado de Odara de Sá Fernandes no Núcleo de Educação Infantil (NEI) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na área de psicologia, foi orientada por Gleice Azambuja Elali, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e diretora do Laboratório e Ateliê de Projetos de Interiores da UFRN.
O estudo alerta para a necessidade de uma maior atenção para organização e planejamento do pátio escolar. “O pátio escolar se torna somente aquela área que ‘sobrou’ da construção do prédio e não se pensa como organizar esse espaço e qual é seu verdadeiro objetivo. É preciso refletir sobre os diversos aspectos do pátio, como tamanho, tipo e quantidade de brinquedos, presença da natureza, entre outros, que podem contribuir de forma importante para o desenvolvimento das crianças”, disse Odara à Agência FAPESP.
De acordo com a pesquisa, o pátio escolar deve ser pensado e organizado estrategicamente de forma que possibilite diversidade de atividades e contribua para a qualidade de vida das crianças. Os resultados apontaram que brincadeiras em grupo foram predominantes em áreas com equipamentos de múltiplas utilidades e que houve diferenças na utilização dos espaços em relação ao gênero e idade das crianças.
Odara explica que o pátio escolar foi escolhido porque, com o crescimento das cidades e da violência urbana, o pátio se tornou o lugar preferencial onde as crianças podem brincar, socializar-se e interagir com a natureza. “Pensar sobre essas áreas pode contribuir para sua melhor organização de maneira a favorecer as interações entre crianças, já que no período escolar a socialização começa a se apresentar como forte elemento para o desenvolvimento humano”, disse.
O estudo indicou os principais fatores que podem interferir na atividade lúdica da criança: o tamanho do pátio, a densidade física, a quantidade e o tipo de brinquedo disponível, o gênero e a idade das crianças e a presença da natureza. De acordo com Odara, o estudo mostra que não basta apenas ter o espaço para a criança brincar, mas é importante, sobretudo, pensar a forma como esse espaço é disposto.
“A fim de contribuir para o processo de desenvolvimento infantil, a organização do pátio deve se basear principalmente em oferecer atividades diversificadas, equipamentos múltiplos, áreas livres, locais para leitura e conversas, espaços esportivos, alternativas para brincadeiras individuais ou em grupos, além do contato com a natureza”, defendeu o pesquisador.
Segundo o estudo, quando as crianças não são ouvidas e não participam do planejamento do pátio, corre-se o risco de restringir a potencialidade de uso desses locais. A pesquisa observou individualmente a movimentação de alunos pelo pátio de uma escola ligada à UFRN durante os horários de recreio pela manhã e à tarde.
As análises traçaram o percurso que as crianças faziam livremente no espaço disponível. De acordo com Odara, as diversas trajetórias realizadas por cada criança compõem mapeamentos conjuntos, a partir dos quais é possível fazer inferências sobre a relação criança-ambiente.
“Os resultados revelaram que brincadeiras em grupo foram predominantes, ocorrendo, preferencialmente, em algumas áreas equipamentos de múltiplas utilidades, quadra de esportes e grande área livre e sombreada. Ao avaliar o percurso realizado pelas crianças notamos a utilização de diversas áreas, mas com um fluxo maior sendo direcionado aos pátios de areia e aos equipamentos multifuncionais”, afirmou.
Em relação ao gênero, o estudo mostrou que os meninos utilizam um maior número de áreas dos pátios, explorando-as e desenvolvendo uma maior variedade de atividades. Jogam futebol, usam carrinhos, brinquedo múltiplo, casinha e brincam de animais, enquanto as meninas permanecem mais tempo brincando na casinha e na areia. Além disso, elas permanecem em locais mais próximos às professoras e recorrem mais a essas do que os meninos.
De acordo com Odara, diversos autores vêm buscando compreender as diferenças entre os gêneros desde a infância. Os grupos de meninos se separavam com mais freqüência do que os das meninas, “o que talvez explique o fato de eles desenvolverem muitas atividades, pois constantemente trocam de grupos e de brincadeiras”, declarou.
“Já as meninas permanecem em grupos mais consolidados e dedicam-se mais tempo à mesma atividade. Outros estudos corroboram esses dados, justificando que as meninas buscam um comportamento mais cooperativo dentro do grupo, enquanto os meninos demonstram ser mais individualistas, favorecendo a mudança de grupo quando suas necessidades não são supridas”, acrescentou.
Além do gênero, segundo Odara, o turno se mostrou outro influenciador dos percursos escolhidos pelas crianças. “A insolação direta dos espaços pode ser um dos elementos que influenciam as diferenças nos caminhos e áreas em uso nos dois turnos. Pela manhã, por exemplo, o setor de playground do pátio é mais utilizado do que à tarde, quando as crianças se concentram mais nos locais cobertos e na quadra de futebol”, declarou.
Segundo o estudo, a idade também influenciou os percursos e atividades. As crianças de 3 anos apresentam uma atitude mais exploratória, usando várias áreas do pátio, mantendo-se, contudo, ao alcance visual do adulto presente. O estudo apontou que, “com o aumento da idade, a atividade exploratória diminui, enquanto a independência com relação ao adulto aumenta”.

Fonte: Portal da Educação Física
Agência FAPESP - Escolar - 05/11/2008     
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