Disciplina - Educação Física

Educação Física

22/06/2011

Modalidades de luta carregam estigma de gênero e preconceito

Por Marcelo Pellegrini - Agência USP de Notícias
Meninos e meninas desde o nascimento são educados para agir de formas opostas em diversas áreas, inclusive no esporte. A dissertação de mestrado a formação da lutadora: estudo sobre mulheres que praticam modalidades de luta da Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) da USP demonstra a desvalorização do esporte feminino, em modalidades de luta, desde a escola até a carreira profissional e os Jogos Olímpicos.
O estudo desenvolvido pelo educador físico Marco Antônio de Carvalho Ferretti e orientado pelo professor Luiz Eduardo Pinto Basto Tourinho Dantas fundamentou-se em entrevistas com cinco lutadoras, todas campeãs mundiais em suas modalidades (boxe, jiu-jitsu, Taekwondo e karatê).
Segundo o pesquisador, algumas modalidades esportivas ainda carregam o predomínio de um dos gêneros, o que pode acarretar no preconceito quando praticada pelo sexo oposto. “Isso deve-se à sexualidade ser relacionada ao gênero em nosso contexto social”, explica Ferretti.
De acordo com ele, muitas crianças são impedidas ou sofrem preconceito por praticar uma modalidade esportiva que não é considerada apropriada para determinado sexo.
Relação de sexo e gênero na escola

Segundo o estudo, em geral, a escola não incentiva o esporte feminino e reserva certas modalidades apenas para meninos e outras apenas para meninas. “A maioria dos meninos aprende a gostar de atividades agressivas e competitivas, enquanto as garotas aprendem a gostar de atividades rítmicas ou relacionadas às tarefas domésticas”, relata o educador físico. “As pessoas devem aceitar esta diversificação. Isso é uma prerrogativa e um reflexo de uma sociedade plural e democrática”, ressalta.
As atividades físicas realizadas nas escolas, em geral, são mistas, ou seja, envolvem meninos e meninas. Porém, de acordo com Ferretti, não funcionam de maneira agregadora e não fomentam o trabalho em equipe, mas sim em uma lógica competitiva e de exclusão. “O ideal seria o ambiente escolar adotar aulas coeducativas, nas quais o professor orienta alunos e alunas contra a intolerância entre meninos e meninas, buscando dar igual oportunidade para ambos”, diz.
Estas conclusões fundamentam-se no relato das atletas entrevistadas. “No meu colégio tinha Educação Física normal, mas fora isso, os meninos tinham esporte e as meninas expressão corporal. Eu queria praticar esporte com eles e não podia. Não dava para trocar, as meninas tinham que dançar”, relata uma lutadora de Jiu-jitsu.
Nas aulas de Educação Física as atletas não eram estigmatizadas devido a sua grande habilidade, diferente de suas colegas de classe. Porém, fora dessa aula, as atletas contam que eram vistas como agressivas por professores e alguns colegas de turma, simplesmente por serem praticantes de luta. “Isto é reflexo das modalidades de luta estarem no campo da masculinidade, o que gera preconceito quando praticada de forma competitiva por mulheres, e também devido a forma como a mídia retrata as lutas”, relata o educador.
Preconceito profissional
“O cara não sabia fazer boxe direito, eu fiz um simples movimento de boxe técnico e acertei ele em cheio, aí o cara veio pra cima de mim até me nocautear, no próprio treino”, conta a campeã mundial de boxe. Exemplos como este, permeiam o cotidiano das lutadoras e resume-se na frase da campeã de jiu-jitsu, “homem nunca gosta de perder para a mulher”.
Até hoje, muitas modalidades olímpicas de luta não possuem delegações femininas, como é o caso da luta greco-romana. “Apenas nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, que o boxe poderá ser disputado por mulheres”, diz Ferretti.
As atletas femininas, em geral, têm uma remuneração mais baixa que os homens. “As federações que não dão importância às modalidades femininas provavelmente enxergam suas modalidades como mercadoria e se o mercado está mais interessado na versão masculina a federação foca seus recursos para os homens, o que influencia diretamente na remuneração das atletas”, conclui.

Esta notícia foi acessada em 22/06/2011 no sítio da Agência USP de Notícias. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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