Disciplina - Educação Física

Educação Física

21/01/2015

Sumô une educação...

Matéria publicada pelo site Globo Esporte

Com 12 títulos brasileiros e quatro sul-americanos, Luciana Watanabe conduz projeto em escolas da cidade que ensina esporte japonês e leva valores sociais a crianças. 

O “dohyô”, piso usado para a prática do sumô, vem ganhando espaço entre mesas e lousas de escolas de Suzano, na região metropolitana de São Paulo. Pouco divulgado no Brasil, o esporte caminha a passos lentos para ter seu reconhecimento no “país do futebol”, mas já faz grande diferença no cotidiano de estudantes do município graças a um trabalho desenvolvido pela lutadora Luciana Watanabe. Detentora de 12 títulos brasileiros e quatro sul-americanos, além de já ter disputado vários mundiais, ela conduz um projeto em colégios da rede municipal onde procura ensinar a prática do sumô e, através dele, introduzir valores sociais na vida dos alunos.

Apesar dos vários prêmios já conquistados desde o início da carreira, o sumô não é a única ocupação de Luciana. Ela é professora de educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental, além de também ser formada em educação física. A ideia de aliar o ensino com o esporte que lhe rendeu vários troféus surgiu quando ela trabalhava com crianças e adultos portadores de necessidades especiais no Centro de Convivência de Suzano.

- Na época, a diretora disse que eu ficaria responsável pela parte esportiva. Aí eu pensei: as pessoas só gostam de jogar bola, e eu só sei lutar. Então minhas amigas me sugeriram ensinar o sumô. Fiz uma apresentação, e os alunos gostaram. No começo havia aquela preocupação de eles se machucarem, mas eles sabiam lutar. A ideia principal era inclusão social, e foi um projeto que deu muito certo – disse.

Após deixar o Centro de Convivência, Luciana passou a colocar o projeto em prática em escolas municipais da cidade. Os treinos acontecem em um dohyô improvisado dentro da própria sala de aula e reúnem diversos “lutadores mirins” que aos poucos conhecem melhor o esporte. Os alunos participam de todo o processo, começando pela montagem do “ringue” onde irão lutar. Antes do treino, já é possível perceber o espírito coletivo que toma conta das crianças, com uma ajudando a outra a vestir o “mawashi”, como é conhecido o traje utilizado pelos lutadores de sumô.

Como o projeto também visa desenvolver o lado social dos jovens, as lutas não começam enquanto as crianças não realizam um debate, junto com a professora, sobre valores como a humildade e a disciplina. Elas ainda mostram à lutadora lições de casa. Depois, os alunos fazem uma atividade recreativa, e por fim dão início à prática do sumô. Com anos de experiência na modalidade, Luciana ensina aos alunos cada golpe do esporte. Os efeitos desse trabalho já são sentidos, e os resultados podem ser vistos no comportamento de cada um.

- Eu sinto uma parceria muito forte. Vamos criando vários laços. E, para mim, o mais importante é a mudança nos valores. É muito legal também porque tenho contato com os pais, então pergunto como o filho está, e algumas mães me relataram que ele mudou depois que começou a praticar o sumô - falou a atleta.

A exemplo do que acontece com as crianças do projeto, Luciana também teve o primeiro contato com o sumô jovem, aos 15 anos. Antes disso, ela já se dedicava às lutas, mas ao judô. Logo em sua primeira competição no esporte de origem japonesa, a atleta teve o primeiro sinal do grande sucesso que viria pela frente: um terceiro lugar no Campeonato Brasileiro. Praticante de uma modalidade “inusitada” na visão de muitos, Luciana admite que, no começo, lidou com algumas situações curiosas, as quais ela encarou com descontração.

- As pessoas olham o sumô com alguns preconceitos. O pessoal acha estranho pelas roupas também. A família me apoiou bastante. Meus pais sempre foram aos campeonatos. Já com os amigos às vezes era engraçado. O pessoal brincava, falava que eu ia colocar uma “fralda” para lutar, mas aos poucos eu ia explicando, dizendo que era um esporte muito dinâmico, que uma luta podia ser resolvida em questão de segundos – lembrou ela.

Os anos se passaram, e os títulos foram se multiplicando, assim como as experiências que o sumô proporcionou à atleta. Através do esporte, Luciana já conheceu diversos países, dentre eles o próprio Japão, único local em que a modalidade é praticada profissionalmente, Alemanha, Tailândia, Argentina, China e Rússia. De todas as nações por que passa a lutadora guarda objetos de recordação, os quais ela expõe em seu quarto, em Suzano. Além, claro, das medalhas e dos troféus conquistados em cada torneio. E, mesmo com tantos deles nas suas estantes, Luciana ainda nutre sonhos no sumô.

- O que eu mais gostaria era ser campeã mundial. Esse é o meu sonho. Além disso, quero ajudar a expandir o sumô no país. Vejo que o esporte ajuda muito a educação. Hoje já tenho quase 70 alunos praticando essa modalidade nas escolas onde trabalho. A minha ideia é ensinar não só a prática do sumô, mas também valores através desse esporte. Melhorar a parte física, social e emocional dos jovens – comentou.


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